segunda-feira, 22 de junho de 2009

Estrear no blog da Bim não é tarefa das mais fáceis. E, pior, sem assunto. Quanta responsabilidade, meu Deus! Mas o blog da Bim é também o blog de Bocaiuva, agora sem acento tônico no u, depois da última reforma ortográfica. E Bocaiuva, com acento ou sem acento, é terra de inspiração para qualquer um que teve um dia a graça de beber da sua água. Não sei se a água de lá ainda vem do Córrego da Onça, mas que era danada de boa, lá isso era. Pura, cristalina, saborosa, boa para curar todos os males, ou pelo menos parte deles, desde bico-de-papagaio até uma boa carraspana, melhor ainda para beber. Bocaiúva do eclipse total do sol, assunto mundial naquele 1947, que já vai longe. Dessa época, vingaram a fama e o aeroporto da cidade, ali no alto, verdade que meio esquecido, imune às enchentes e quase sempre sob a poeira vermelha que denuncia as intempèries do semi-árido sertão. De lá se pode enxergar muito longe. Mais longe ainda, o ano é 1925, quase esquecido branqueia ali o belo prédio da Central do Brasil. Disse alguém que todo homem sonha e corrige sua infância com delicadezas perdidas, mesmo as que nem chegaram a existir. E quantas delicadezas não repousam ali naquele hoje velho prédio, nos trens que chegavam e partiam, apitando na curva. Passaram-se anos, outros tantos ficaram-nos pelo caminho, e como nenhum de nós conseguiu trazer o tempo roubado na algibeira (Fernando Pessoa), lá está hoje, o velho e imponente prédio, maltrapilho, abandonado entre o mato que cresce e a ação de alguns que furtam-lhe o pouco que restou, fadado ao mesmo destino da velha matriz, dos coretos, da fonte luminosa. Mas eis que surge uma esperança: Aqui mesmo no blog leio que já há um movimento para salvar o prédio da estação, restaurá-lo, transformá-lo num centro cultura, quem sabe. Antes que seja tarde, antes que nossas delicadezas de infância não se tornem apenas saudade e o velho prédio da Central apenas um retrato na parede, como a Matriz do Senhor do Bonfim.

Plinio Eduardo Praes

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Amigos bocaiuvenses, gostaria de apresentar o novo sócio deste blog : PLÍNIO EDUARDO PRAES.
Foi meu colega de primário, e naquela época morava na Avenida Montes Claros , bem pertinho da Estação Ferroviária. Ele é a pessoa que vai fazer esse blog movimentar com suas tão belas palavras....
Bim

domingo, 14 de junho de 2009

Trem da Minha Memória

De repente, desembarquei no velho mercado, ao lado da Farmácia Moura. Ainda ouço o burburinho da feira e, diante dos meus olhos, desfilam fantasmas conhecidos como Geraldo de Rodrigo, Pedro dos Matos com a sua inconfundível e comprida barba branca, Bento Caldeira, Pedrinho de Landulfo com a sua bonita dona Dasdores e, como não poderia deixar de ser, também aparecem figuras do povo, exóticas, folclóricas como o Mudinho, Anastácio, Maria Cachorro Doido e Manoel Pau de Fósforo...
Era gostoso conferir as bruacas espalhadas pelo chão, ouvir o homem da roça falar da seca, de uma esperança obstinada e imorredoura. Na parte da manhã, meus irmãos e eu, vendíamos coisas da roça: arroz, rapadura, abóboras e laranjas, produtos das Pedrinhas, fazendola do meu pai. À tarde, o banho costumeiro de sábado, numa grande bacia, debaixo de uma mangueira, e que nos serviria para o resto da semana. Depois disso, sem dinheiro para o cinema logo mais à noite e na falta de uma expectativa de uma vida melhor, eu cismava observando pernas, moças bonitas que desfilavam na praça e nunca seriam minhas namoradas... Tantos nomes, tantos rostos bonitos armazenados nos escaninhos de minha saudade...
( Darci Freire)
Cantiga de Exílio

Ah, minha Bocaiúva,
Das cantigas de roda,
Da seca...
Um coreto...
Um pomar no Pernambuco
Meu “outro lado” que se perdeu
Das boiadas cansadas
Vai longe o tempo...
Empoeiradas
Passando rente à nossa porta...
Das estórias ao pé do fogo
Sob o bordado de um céu
Que acabava atrás de um morro...
Que saudade que dá!

(Darci Freire)

A constituição de 1937 estabeleceu o Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Serviço destinado a proteger o acervo de arte antiga e os monumentos de valor histórico existente em todo território Nacional.
Que pena, Bocaiuva não tinha esse conhecimento!