domingo, 14 de junho de 2009

Trem da Minha Memória

De repente, desembarquei no velho mercado, ao lado da Farmácia Moura. Ainda ouço o burburinho da feira e, diante dos meus olhos, desfilam fantasmas conhecidos como Geraldo de Rodrigo, Pedro dos Matos com a sua inconfundível e comprida barba branca, Bento Caldeira, Pedrinho de Landulfo com a sua bonita dona Dasdores e, como não poderia deixar de ser, também aparecem figuras do povo, exóticas, folclóricas como o Mudinho, Anastácio, Maria Cachorro Doido e Manoel Pau de Fósforo...
Era gostoso conferir as bruacas espalhadas pelo chão, ouvir o homem da roça falar da seca, de uma esperança obstinada e imorredoura. Na parte da manhã, meus irmãos e eu, vendíamos coisas da roça: arroz, rapadura, abóboras e laranjas, produtos das Pedrinhas, fazendola do meu pai. À tarde, o banho costumeiro de sábado, numa grande bacia, debaixo de uma mangueira, e que nos serviria para o resto da semana. Depois disso, sem dinheiro para o cinema logo mais à noite e na falta de uma expectativa de uma vida melhor, eu cismava observando pernas, moças bonitas que desfilavam na praça e nunca seriam minhas namoradas... Tantos nomes, tantos rostos bonitos armazenados nos escaninhos de minha saudade...
( Darci Freire)
Cantiga de Exílio

Ah, minha Bocaiúva,
Das cantigas de roda,
Da seca...
Um coreto...
Um pomar no Pernambuco
Meu “outro lado” que se perdeu
Das boiadas cansadas
Vai longe o tempo...
Empoeiradas
Passando rente à nossa porta...
Das estórias ao pé do fogo
Sob o bordado de um céu
Que acabava atrás de um morro...
Que saudade que dá!

(Darci Freire)

A constituição de 1937 estabeleceu o Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Serviço destinado a proteger o acervo de arte antiga e os monumentos de valor histórico existente em todo território Nacional.
Que pena, Bocaiuva não tinha esse conhecimento!